Céu ou Inferno?



















Saturada de ouvir este permanente rosnar, ora do fraco para o forte, ora do forte para o fraco, que faz tremer os vidros das janelas como se da Natureza se tratasse. De dia e de noite, de 3 em 3 minutos da minha Vida, soando sempre mais forte que os pássaros que ainda ousam habitar a cidade connosco, este é o som sempre presente que compõe uma sinfonia sórdida com as sirenes das ambulâncias e dos alarmes estragados. Tem que ser este o céu da cidade...?

Ocaso de Outono



















Quando o céu do Outono se põe com esta luz, é difícil resistir-lhe. 
Mesmo se o que o enquadra, brilha de forma estranha...

Ver ou não ver

Ao sair da exposição "Ver com outros olhos", na Fundação Calouste Gulbenkian, trazia os pés fora do chão e o coração ao alto.
Os olhos, esses, vinham bem alerta, vivendo em plenitude a função da sua existência. Cada detalhe, um universo. Cada paisagem, uma memória. Cada enquadramento do olhar, uma fotografia dos milhões de que vai sendo feito o filme da minha vida.
Agora, que tenho vindo a sentir o envelhecer do meu ver, percebo como para lá deste meu ver haverá sempre um outro, até morrer. Esse outro, tem a porta aberta para ver o caminho da vida, o do sentir.
Estou grata a todos os que levaram a cabo o projecto "Ver com outros olhos". Sim, porque além de todos os que puderam participar com outros olhos, também do lado de cá, do lado do público, se anuncia essa possibilidade tão valiosa. Sobretudo quando hoje, e cada vez mais, há um mundo de gente que escolhe ver e outro mundo que, tristemente,  escolhe não ver...


Aqui entre nós


é o Verão inteiro num só dia
quando, em Outubro, um tapete de conchas 
se estende aos nossos pés na maré vazia
ali, onde o comboio já não passa…




O meu corpo no Outono














agora que morri, venho dizer-te que te amo.
amo-te morta.
amei-te viva.
porém,
sem nunca to dizer
dizer… dizer…
dizer palavras essenciais 
de «essência»
dizer muitas vezes palavras essenciais
essências difíceis de dizer
porém,
tão boas de sentir
doces de ouvir
sinto-te…

morta, sem te ouvir.

A outra vida I


Nesta longa noite de silêncio viajei por lugares tão estranhos quanto belos...

A cama de ferro e o meu corpo, transportados como se fossem leves, para uma pequena ampliação do escritório sobre a rua, foram o meu tapete voador. Uma violenta tempestade de ventos e de mar agitado transportou-nos (sem que me desse conta pois dormia) da rua onde vivia até uma estreita viela no bairro de um castelo. Fui acordada por alguém que batia energicamente na porta do meu invólucro, que simplesmente pretendia passar... Pousámos, entalados na viela, impedindo uns de saírem ou entrarem na própria casa e outros de percorrerem a rua.

























João Serra, Mértola, 2010

Pegadas ecológicas









Estar atento à delicadeza com que os animais tocam no território, para o atravessar ou para viver nele.

Casas que choram baixinho


Se eu pudesse ser a "Dama de Chandor"...


Grata à Catarina Mourão por tão belo filme


Distâncias e proximidades

ou caminhos secretos tranquilamente percorridos 
por quem olha para cima e, generosamente,
leva consigo quem olha para baixo.























para o Alberto, com carinho e gratidão





Casa que acolhe

É fresca quando o ar está quente
Oferece lugares para sentar e escrever
Veste cores que vestem quem lá fica
Cheira a hortelã e a terra molhada
Ilumina caminhos tranquilos
Pertence a quem lhe pertence
Guarda os objectos nos seus precisos lugares
E guarda também segredos para sempre
Ecoa histórias e canções de embalar
Dorme quando se lá dorme e acorda ao primeiro olhar





Com este afecto antigo, para o Nuno


A preto e branco










































































































Porque a força dos negros vulcânicos e dos brilhos da luz soltam-se dos azuis deslumbrantes das águas e dos céus, e dos inúmeros verdes do território, e chamam o olhar para a crueza da pedra de lava e dos véus que a revelam.
São Miguel, Açores

  

Paisagens celestes

ou como levar o corpo a descansar a alma




Le corps qu'on «est»

" Il nous faut distinguer clairement le corps qu'on «a» est le corps qu'on «est».
Le corps qu'on «est», c'est l'ensemble des gestes par lesquels nous nous exprimons et nous réalisons. Le corps, c'est la personne, en tant qu'être qui vi. La personne vivante est au-delá des opposés corps et âme."


 
"... remplacé le mot corps par les mots façon d'être lá,
dans la visibilité, dans le temps et dans l'espace."

K.G. Dürckheim

Obrigada Miguel





Au gré des ondes


Para a São com saudade

Vidas



















por um fio
ao terceiro quarto do dia

Histórias por contar I




















muros por caiar
casas por habitar
cortinas por correr
janelas por abrir
roupas por estender
céus por chover
vidas por descobrir

amores por amar


A flor do meu quintal



















Tive um quintal que teve uma flor.
A flor teve o quintal, que me teve a mim.
A flor teve-me.

Detalhes da vizinhança


















Uma vizinhança anónima e delicada que preenche o olhar de uma ordem subtil e bela que deixa saudade.
















Passados alguns meses e obras de reabilitação, hoje uma nova vizinhança entristece o olhar...

Pé ante pé






























pela porta de luz entre a terra e o mar

pela ponte de água da terra para o céu 

pé ante pé...

Mar imaginado



















no presente como no passado...

Que maré me levará?

Tabortuznel




Chant du Soir

Comme un murmure loin sur la plaine
souffle le vent venant des montagnes
mais auprès du feu qui veille rouge braise
tout repose dans le rêve, dans le calme
Lorsque le vent s'apaise vers l'aube
tinte la cloche au toits du village
Et longtemps encore sonne
bim bam bim bam
Sa chanson au coeur de l'homme
bim bam bim bam

(Canto popular Húngaro)

Mãos


























Sustenho o desejo com uma mão…

Se o desejo for escorregadio, tenho sempre a outra mão para o alcançar.

Passagens e o Mar
























As passagens são estreitas, 
as pontes são frágeis, 
o chão é movediço, 
mas do lado de lá está o Mar...

para o Fernando

Lá ao fundo

Aí, para ti São, tudo é também azul