Encontro no quadrado azul




Agora, aqui, no quadrado azul deste pátio, escrevo a mim mesma o quanto lamento ter existido tanto tempo desatenta, abandonada ao imediatismo das facilidades do meu tempo jovem, desperdiçada por mim própria.

(a propósito das belas imagens e diálogos do "Senso" de Visconti  revisitadas no "Ornamento e Delitto" de Rossi, que não situaria não fora a sorte de encontrar um amigo que me amparou a memória)

Obrigada Ricardo

Animais e marcações de território


Óbidos, 10 de Agosto 2019



Não sei muito sobre este assunto, de um ponto de vista científico, mas é sabido pelo senso comum que muitos animais irracionais marcam os seus territórios de formas variadas. Os cães e os gatos fazem xixi, por exemplo...
Os animais racionais, ou seja, os seres humanos, nós... também marcamos os nossos territórios das mais variadas formas. Algumas assemelham-se às dos animais irracionais. São os sinais do nosso lado selvagem, certamente... 
Outras são igualmente selvagens mas incompreensíveis, de qualquer ponto de vista, e muito feias.

A vista da minha janela

Da minha janela vejo o Mar. Sim, o oceano! 
Vejo também vários planos de montanhas em claro escuro. Aquelas entre as quais corre uma ribeira fresca ladeada de um Nogueiral antigo e amoras silvestres quase maduras.
Quando estou bem atenta, vejo a Garça-nocturna a atravessar o céu da madrugada.
Há um dia em que a minha janela se abre para a copa frondosa de um Freixo que reconheço, e entra o ar limpo.
Mesmo quando da minha janela parece ser apenas visível um pano amarelo sujo recortado por tristes rectângulos negros, abro os olhos bem abertos de dentro para fora e vejo um recorte delicado de sucessivos telhados e mirantes que se destacam do rio ao fundo.
Da minha janela vejo quase tudo o que me faz falta.



Voltas da vida



















Neste sempre-lugar que é entre a terra e o céu, entre o cheio e o vazio, entre o negro e a luz, vou, volto, parto novamente e regresso, respiro, descanso, e aí vou outra vez nesta bela viagem de baixo para cima.

(A)riscar em Castelo de Vide

Trata-se de uma exposição patente na bela igreja de São João, em Castelo de Vide.
Tive o privilégio de ser guiada pelo seu autor, Luís Pedro Cruz, um arquitecto que conheci há 20 anos ali, na região onde vivi durante cerca de 15. 
Ali nasceram dois dos meus três filhos. 
Ali, muitas vezes guiada pelo Luís Pedro, descobri a paixão pelo território construído e pela possibilidade de me relacionar intensa e verdadeiramente com a vida através da prática da Arquitectura. 
Ali descobri como SOU dos lugares aos quais me ligo. 
Sou dos lugares onde trabalho. Sou dos lugares onde sinto afectos. Sou dos lugares onde durmo e acordo. Sou dos lugares onde sinto o cheiro da terra ou o cheiro da casa. Sou dos lugares onde o Sol me aquece e a chuva me molha. Sou dos lugares onde a minha sombra fica gravada numa parede caiada ou na água de uma fonte. E este não é outro assunto. É realmente o mesmo assunto! 
O lugar, as pessoas, o território, o clima, a paisagem, a organização social, os costumes, os cheiros, as cores, as texturas, as vontades e as tristezas das pessoas, as matérias...

Estou profundamente grata ao Luís Pedro por esta grande janela que me abriu e mais ainda por me ter mostrado há poucos dias como esta paixão pela arquitectura nunca esmorece, renasce de cinzas, ergue-se de quaisquer abalos. É uma crença que nos liga à vida e ao lugar.
























Quem esteja por perto ou mesmo longe, pois vale bem o trajecto, aproveite! 
Raramente se pode sentir a paixão pela Arquitectura pela voz e presença do próprio, do apaixonado, do arquitecto.

Estendais, chaneza ou lhaneza


Não conhecia estas palavras, chaneza e lhaneza.

cha·ne·za |ê| 
substantivo feminino
1. Planura de um terreno baixo.
2. Lhaneza.
3. Singeleza cativante.
"chaneza", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/chaneza [consultado em 07-06-2019].

lha·ne·za |ê| 
(lhano + -eza)
substantivo feminino
1. Qualidade do que é lhano.
2. Afabilidadesimplicidadelisuracandura.
"Lhaneza", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/Lhaneza [consultado em 07-06-2019].




























No entanto elas povoam o meu dia a dia, aparecem no meu prosaico campo de visão e surpreendem-me.
Gosto de estendais e da roupa que seca ao vento e ao sol.

Muros e caminhos


 

(Serra dos Candeeiros Novembro de 2009)

Muros antigos de divisão de propriedades, caminhos antigos de serventia, todos eles bastante íntimos da paisagem original, apesar de lá já se adivinhar a invasão do eucalipto. 

Caminhos menos antigos mas de suave traçado, ainda que no princípio do fim.

Bom vento


Barragem de Montargil
(Abril 2019, a caminho de Arenas de San Pedro, Espanha)

Uma amizade delicada como um reflexo em água parada.


Para o meu querido amigo Daniel

Sinal vindo de longe














(Barragem de Póvoa e Meadas, Fevereiro de 2011)


no tempo
no espaço
no corpo...

real ou ilusão?
simulacro...?
espectro...?

afectos

Obrigada querido Simão




Nostalgia



















Estado melancólico 
causado pela falta de algo ou de alguém

"nostalgia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/nostalgia [consultado em 02-04-2019].