Ver ou não ver

Ao sair da exposição "Ver com outros olhos", na Fundação Calouste Gulbenkian, trazia os pés fora do chão e o coração ao alto.
Os olhos, esses, vinham bem alerta, vivendo em plenitude a função da sua existência. Cada detalhe, um universo. Cada paisagem, uma memória. Cada enquadramento do olhar, uma fotografia dos milhões de que vai sendo feito o filme da minha vida.
Agora, que tenho vindo a sentir o envelhecer do meu ver, percebo como para lá deste meu ver haverá sempre um outro, até morrer. Esse outro, tem a porta aberta para ver o caminho da vida, o do sentir.
Estou grata a todos os que levaram a cabo o projecto "Ver com outros olhos". Sim, porque além de todos os que puderam participar com outros olhos, também do lado de cá, do lado do público, se anuncia essa possibilidade tão valiosa. Sobretudo quando hoje, e cada vez mais, há um mundo de gente que escolhe ver e outro mundo que, tristemente,  escolhe não ver...


Aqui entre nós


é o Verão inteiro num só dia
quando, em Outubro, um tapete de conchas 
se estende aos nossos pés na maré vazia
ali, onde o comboio já não passa…