vejo a Primavera

















de olhos postos no chão




















...pois que a Natureza tome conta de nós...

A Curva dos Teus OlhosA curva dos teus olhos dá a volta ao meu peito 
É uma dança de roda e de doçura. 
Berço nocturno e auréola do tempo, 
Se já não sei tudo o que vivi 
É que os teus olhos não me viram sempre. 

Folhas do dia e musgos do orvalho, 
Hastes de brisas, sorrisos de perfume, 
Asas de luz cobrindo o mundo inteiro, 
Barcos de céu e barcos do mar, 
Caçadores dos sons e nascentes das cores. 

Perfume esparso de um manancial de auroras 
Abandonado sobre a palha dos astros, 
Como o dia depende da inocência 
O mundo inteiro depende dos teus olhos 
E todo o meu sangue corre no teu olhar. 

Paul Eluard, in "Algumas das Palavras" 
Tradução de António Ramos Rosa